A Califórnia não se entrega

Problemas financeiros forçam o adiamento
da edição deste ano do festival
para abril de 2009

Uruguaiana, 9 de dezembro de 2007. O público está de pé na arquibancada instalada em frente ao palco da Califórnia da Canção Nativa, no Parque Agrícola e Pastoril, para cantar o Hino Rio-Grandense na abertura da noite final do festival. Na metade do hino, o som emudece. A organização espera uma vaia, mas a platéia infla o peito e dá continuidade à letra de Francisco Pinto da Fontoura.Nem todos os problemas da Califórnia, entretanto, são tão fáceis de contornar. Asfixiada pela falta de verbas, a Califórnia de 2008 foi adiada para abril do próximo ano, e está cancelada a realização das pré-Califórnias (eventos em diversas cidades gaúchas que selecionam as classificadas para a etapa final).A organização do festival credita o adiamento à retração dos empresários: a Califórnia deste ano, por exemplo, poderia captar até R$ 400 mil por meio da Lei Rouanet, mas a adesão das empresas foi mínima. Segundo Colmar Duarte, 73 anos, coordenador do colegiado que atualmente organiza o festival, a desculpa foi quase sempre a mesma:– Quando usa o benefício da Rouanet, o empresário dá o dinheiro, mas só pode descontar a porcentagem em seus impostos no próximo ano. Ou seja, antecipa a verba para o evento.


Com a insegurança que a crise instalou nos empresários com a crise financeira internacional, foi difícil conseguir patrocínio.O festival, cujo orçamento atual está em torno de R$ 250 mil, vem mal das pernas há pelo menos três anos. Em 2006, as pré-Califórnias foram realizadas, mas a final, marcada para dezembro daquele ano, não ocorreu por falta de dinheiro. Remarcada para maio de 2007, foi adiada de novo pelo mesmo motivo. A crise se estendeu à administração da Califórnia: a antiga presidência foi destituída, e um colegiado composto por cinco pessoas assumiu a realização do evento, que ocorreu em dezembro de 2007.–


Fizemos com recursos próprios, na garra e na coragem. Nem com a Rouanet podíamos contar no ano passado porque o projeto em vigência era para captação de R$ 1,6 milhão. Só se pode mexer no dinheiro depois de 20% do valor arrecadado, e não captamos esse mínimo– lembra Duarte.Dívidas antigas e rejeição da LIC também afetam evento


A Califórnia quer olhar para o futuro, mas o passado ainda incomoda: o festival ainda está comprometido com várias dívidas, que Duarte prefere não revelar o valor total. Para complicar, uma das principais possibilidades de financiamento da Califórnia parece descartada, pelo menos por enquanto. Por muitos anos, a fonte de recursos para o evento foi a Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC), mas o projeto para realização da 35ª edição do evento foi rejeitado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC). Agora, em função das investigações de irregularidades em torno do incentivo, todos os projetos estão parados.– Estamos aguardando o que vão resolver em torno da LIC. Com certeza é um incentivo mais fácil de se trabalhar do que a Lei Rouanet.


Ouvimos algo sobre a possibilidade de alguns eventos receberem dinheiro direto do orçamento do Estado. Se for assim, achamos que a Califórnia deve estar inserida, afinal, o evento é patrimônio cultural do Estado – destaca o organizador.
* Zero Hora

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