A 24ª EDIÇÃO DO CARIJO DA CANÇÃO GAÚCHA ACONTECERÁ DE 28 Á 31 DE MAIO DE 2009
CARIJO ERVATEIRO - É um jirau de varas toscas, horizontal ou em forma de cumeeira rasa, a um metro e meio ou pouco mais do solo, onde se colocam os feixes de erva-mate, já sapecados, para a secagem ao calor direto do braseiro que arde embaixo de toda a extensão coberta. A distribuição do calor obriga os “rondas” do carijo a passarem as noites em vigilância, emparelhando o braseiro com o auxílio de guampas d’água, atiradas de quando em quando sobre as labaredas mais altas, cujas faíscas podem ocasionar incêndios. Por isso, geralmente constrói-se os carijós nos recessos dos matos, próximos a um córrego ou vertente e se rondam à noite, quando não venta. À lenha ordinária costuma-se misturar plantas aromáticas, como guabiroba, cabreúva, pitangueira, na intenção de transmitir seu gosto e odor à erva-mate. O benefício da erva-mate compõe-se de corte, sapeco, secagem, cancheio, soque e acondicionamento. Todas essas operações podem ser individuais, menos a secagem no carijo, que é operação coletiva, espécie de ritual festivo, verdadeiro salão social dos ervateiros, a cargo de obreiros e visitantes, inclusive moças. Durando em geral três noites completas, favorecem os causos, os desafios e até romances. Carijo armado ou carijo aceso, significam namoro em Palmeira das Missões.
O SIGNIFICADO DO FESTIVAL- Com o Carijo da Canção Gaúcha, Palmeira das Missões inscreveu uma página de destaque no calendário dos grandes festivais nativistas que hoje cobrem o mapa do Rio Grande com sucesso incomum. Talvez seu êxito não se deva apenas ao sentido de puro divertimento, ainda que consagrado pelo prestigio da arte. Antes disso, essa espécie de regresso às origens significa uma redescoberta das fontes de nossos mais genuínos valores espirituais, que devemos manter e aprimorar, como nossa melhor contribuição para o progresso cultural do grande Todo, que é a Nação. Outro dos fascínios dessas promoções, vitoriosas em quase todas as faixas etárias, está em sua esplêndida saúde moral, uma das mais belas conquistas do Movimento Tradicionalista Gaúcho, através dos incontáveis CTGs, que se expandiram por todo o Brasil, a partir do Rio Grande do Sul. Em seu sentido mais profundo, ele se traduz como a concretização de um novo diálogo entre a cidade e o campo, uma expressão singular de rurbanismo, em que o galpão, antes rude abrigo de servidores rurais, assumiu a condição de espaço humanizado para encontro entre todas as classes, no ritual fraterno do chimarrão e na fusão afetiva de tertúlias e fandangos. O título “Carijo”, além de expressivo é muito feliz para Palmeira das Missões, que é filha da erva-mate. Ela começou no início do século XIX, como “Vilinha do Erval”, um rancheiro de capim, localizado na mesma coxilha onde ser realiza este Festival, em que as caravanas vindas de Cruz Alta se abasteciam do “ouro verde das matas”, a primeira das riquezas que os jesuítas nos legaram. Tal era a quantidade, e principalmente a qualidade da “ilex paraguariensis” aqui existente, que o primeiro acampamento cresceu tanto, como reza um relato da época, que em breve passou a Sede de um Distrito, com cerca de quinze mil quilômetros quadrados, entre Santa Bárbara do Sul e Irai, por um lado, e Passo Fundo e Santo Ângelo, por outro. Verdadeiro salão social dos ervateiros, o Carijo, desde suas origens, foi um ritual festivo e competitivo, em que as noites de rondas se encurtavam com anedotas, chistes, causos e assombrações, os desafios rimados e os descantes ao som do violão ou da cordeona, animados a tragos de canha. Tudo isso agora revive simbolicamente no Carijo da Canção Gaúcha, com o concerto de artistas de todo o Brasil.
Autor: Mozart Pereira Soares
*Christiane Secretária Executiva
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